quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Atitude empreendedora: uma breve reflexão sobre a formação do empreendedor brasileiro

Shernews
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agosto / 2008


“Atitude empreendedora: uma breve reflexão sobre a formação do empreendedor brasileiro ”

*Alexandre Moreno

Muito se fala em empreendedorismo, sobre ter um perfil empreendedor para construir a própria oportunidade de trabalho, ter o próprio negócio e de certa forma não ficar amercê de um mercado de trabalho cada vez mais restrito. O tema é fascinante e realmente aponta para um dos caminhos alternativos, que provavelmente nos próximos anos se torne regra. Porém, alguns questionamentos devem ser pontuados, o primeiro diz respeito ao conceito de empreendedorismo e das características de um empreendedor. A cultura do Brasil, o pensar, sentir e agir do país incentiva a construção do perfil do empreendedor?O segundo questionamento é o pano de fundo do terceiro: tornar-se empreendedor é conseqüência de conhecime ntos acadêmicos ou há necessidade de possuir valores interiores que viabilizem a construção desse perfil?

Afinal qual é cara do brasileiro? É como Macunaíma, o herói imortalizado por Mario de Andrade naobra Macunaíma o herói sem nenhum caráter, sem referenciais e sem características, que busca aproveitar o dia-a-dia de forma imediata, envolto pela sátira e pelo cômico. Talvez algunssejam assim, mas, existem reações diferentes em relação aos valores transmitidos pela cultura, principalmente em países, como o Brasil, que foram colônias e sentiram o choque da invasão, que estimulou os processos de hibridação e mestiçagem, que geram tanta diversidade e possibilidades.

Nesse cenário brasileiro hibrido onde o caos é sinônimo do dia-a-dia, o empreendedorismo pode ser a alternativa, por ser uma competência fundamental para o crescimento profissional, a manutenção da empregabilidade e a realização pessoal.

Para Bolson (2003) o empreendedorismo é um movimento educacional que objetiva o desenvolvimento de atitudes empreendedoras e mentes planejadoras. Um ponto importante que deve ser ressaltado é que o empreendedorismo tem que ser visto como uma atitude perante a vida, e portanto, quanto mais cedo for estimulado, melhor. Assim, a escola e a família tem grande influencia na formação de empreendedores, e são modelos para os que educam.

O empreendedorismo não é uma ciência, embora seja continuamente pesquisado. Dolabella (1999) credita isso a ausência de paradigmas, receitas e padrões que possam garantir que a partir de determinada situação haverá um empreendedor de sucesso. Mas o próprio Dolabella (1999:33) afirma que “o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, é fruto dos hábitos, práticas e valores das pessoas”

De maneira geral o empreendedorismo relaciona-se à criação da idéia inovadora de negócio que cause impacto no ambiente organizacional. No Brasil, contrariando esse preceito, 58% dos empreendedores, segundo a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), criam empreendimentos vinculados a segmentos tradicionais, pouco inovadores e com investimento inicial de pouca monta, tipicamente menos intensivos em necessidade de formalização, capital, tecnologia e conhecimento. Somente 2% acreditam que seu negócio será considerado completamente inovador e 85% julgam que o seu empreendimento não introduz novidades no mercado em que atuam.

Dolabella (1999), na obra O segredo de Luísa cita que uma das inspirações para escrever o livro foram experiências de empreendedores relatadas em salas de aula, histórias que se confundem a família, ao casamento, aos amores e desilusões, a história de sonhos que tornaram-se realidade. O autor destaca que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, empreendedores se desenvolvem por influência do meio em que vivem, pois pesquisas demonstram que os empreendedores têm sempre um modelo de negócios, alguém que os influencia.

Paulo Cezar Aragão, sócio da Barbosa, Müssnich e Aragão Advogados afirma que “Não existe um maneira certa de empreender. Existem várias erradas. Você vai aprendendo”.

Pode-se então afirmar que ninguém nasce empreendedor, pois as competências, ou seja, conhecimentos, habilidades e atitudes podem ser desenvolvidos através de aprimoramento técnico e administrativo, inteligência emocional e inteligência prática que o capacita para vislumbrar a formação de pequenas e médias empresas que impulsionem o desenvolvimento local e regional.

Pedro Moreira Salles, presidente do Unibanco é convincente ao afirmar que o empreendedor “Tem que ter ambição porque a pessoa vai ter que abrir mão de alguns confortos, principalmente o contracheque no fim do mês” (Instituto Empreender Endeavor 2005: 46). Porém, não necessariamente o empreendedor abre mão do contracheque já que pode atuar dentro de uma organização, que não seja sua, mas utilizando todo seu potencial e obtendo prestigio e status.

Para o empreendedor, o ser é mais importante que os saber. A empresa é a materialização dos nossos sonhos. É a projeção de nossa imagem interior, do nosso intimo, do nosso ser em sua forma total. O estudo do comportamento do empreendedor é considerado hoje fonte de novas formas de compreensão do ser humano em seu processo de criação de riquezas e de realização pessoal. Dessa perspectiva, o empreendedor é visto também como um campo intensamente relacionado com o processo de entendimento e construção da liberdade humana... (Dolabela 2006: 67)

Outro ponto fundamental é que empreender não é necessariamente uma atitude de criar um novo negócio, você pode empreender dentro da sua organização, são os intraempreendedores ou intrapreneur designativo da pessoa que, dentro de uma grande corporação, assume a responsabilidade direta de transformar uma idéia ou projeto em produto lucrativo. O empresário José Oscar Constantino diretor da rede de calçados Oscar Calçados, no Vale do Paraíba/SP, disse certa vez que se tivesse que escolher entre um colaborador técnico e um intraempreendedor ficaria com o segundo. O motivo? Ele administraria o seu departamento ou a área que lhe compete coma visão do dono do negócio.

Para Dornelas (2001) “Temos muito a fazer e isso mostra que nossos empreendedores de sucesso são verdadeiros heróis, já que apesar de tudo, conseguem vencer e atingir seus objetivos”. Segundo ele, grande parte dos empreendedores estão tentando sobreviver primeiro e depois competir, ousar e crescer.

E para finalizar esse artigo sobre empreendedorismo lanço uma pequena semente para a reflexão e afirmo que a nascente do problema pode ser novamente a educação, Paulo Freire, grande educador, a discute, especificamente sobre a formal na escola, e afirma que a escola não é um lugar para estudar, mas para se encontrar, confrontar-se com o outro, discutir, fazer política. Deve também gerar insatisfação com o já dito, o já sabido, o já estabelecido.

Porém, o que acontece é que os brasileiros ainda utilizam-se, apenas, de seus dons, sua vontade, sua pequena economia e sua fé para montar seu negócio, faltando-lhe o essencial que é o aprimoramento técnico, administrativo, e o relacionamento e trato com as pessoas, que podem ser estimulados e originados na formação acadêmica.


Alexandre Moreno, engenheiro, especialista em marketing mestrando em Gestão de Pessoas e coach em formação pelo ICI.

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